quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Imagem: Ana Souto de Matos

No princípio era… a vida.
Nos veios vejo caminhos, 
nas cores emoções, 
na textura a forma como encaro a vida, 
no brilho vejo e oiço a música, 
qual luz me chama e acompanha na caminhada,
na folha vejo a dança, o propósito… o ser.
 
                                                                            Texto: Nina

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Palavras
Sebastian Art
Palavra que é dita
deixa de ter dono,
passa a pertencer a quem a ouve e interpreta.

Palavra solta ao vento ganha forma e força,
ganha cor, ganha vida
e transforma o espaço que percorre
com a intensidade com que foi proferida.

Pensa antes de ditar
liberta dos teus lábios apenas o que queres emitir...    Nina

quarta-feira, 11 de julho de 2012

AZUL

No azul me perco e me reencontro,
do início da vida aos confins do infinito,
o azul me acompanha colado à pele e à alma
nos seus diversos tons e transparências,
me transborda de sentimentos de paz e de calma.                          
                                                                                       
Nina

sábado, 30 de junho de 2012

DEUS




 ‎(...) Não acredito em Deus porque nunca o vi. 
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De que, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus? 

Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
in, O Mistério das Cousas, Alberto Caeiro

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sol


O sol quando nasce é para tudo e todos.
Brilha, ilumina e aquece todos da mesma forma,
nós é que decidimos quanto queremos desse sol.
Não vivas na sombra, no escuro, no frio e na dúvida
escolhe a luz, sempre a luz.  
                      
                                                                              Nina

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Teia
Foto: Nuno Ramos

Na teia da vida
Temos a força de uma tempestade
e a delicadeza de uma gota de orvalho.
O segredo da felicidade está
em aceitar o que somos e
encontrar o equilíbrio
entre os extremos de nós próprios…
Texto: Nina

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Marchas e Flores

Esta noite fui, com os meus pais, ver as marchas de santo António a Lisboa.
As ruas estavam maravilhosamente agitadas, os sons animados misturavam-se com o brilho das lanternas e com as cores e cheiros da sardinha e dos manjericos.
Gostei muito de tudo o que vi, passear à noite é sempre mágico.
No regresso a casa, adormeci no banco de trás ao som das vozes alegres dos meus pais e do ronronar do carro.
Subitamente acordei, sem saber o motivo, mas o sono era tanto que devo ter adormecido de novo. Mais tarde, ouvi sirenes, pessoas a correr...senti que me levavam, mas voltei a adormecer.
Era estranho, sentia-me frio, estava com medo e queria os meus pais e não compreendia porque não abria os meus olhos nem chamava por eles.
Comecei a ficar aflito e a transpirar. Queria mexer-me e gritar e não era capaz. Que sonho estranho era aquele?
Naquele momento senti que uma mão quente e áspera, cheia de veias salientes, pegava carinhosamente na minha mão pequena e fria. Era uma mão grande como a do meu pai, mas não era a dele.
Senti-me melhor, aquele gesto deixou-me mais tranquilo. Apercebi-me, então, que estava, de pé, junto àquele homem de vestido castanho que usava uma corda com um nó a fazer de cinto. 
Não sei quem era, mas segui-lhe a voz que me dizia - Vem comigo ver as flores, até os teus pais te virem buscar, eles estão bem e tu também.
Eu fui de mão dada, reconfortado e em paz - as flores eram tão bonitas...

This evening I went with my parents, to see the St. Anthony Parade in Lisbon. 
The streets were wonderfully stirred, excited sounds mingled with the glow of lanterns and the colors and smells of the sardines and the traditional basil. 
I enjoyed everything I saw, walking at night is always magical. 
Returning home, I fell asleep in the back seat hearing the sound of my parents happy voices and the purr of the car. 
Suddenly I awoke, not knowing why, but as I was so sleepy I must have dozed off again. 
Later, I heard sirens, people  running ... I felt someone was taking me, but I went back to sleep.
 It was strange, I felt cold, I was afraid and wanted my parents and did not understand why I wouldn't open my eyes or even call for them. 
I began to get anxious and sweating. I wanted to move myself and scream but could not. What a strange dream was this? 
At that moment I felt a warm and rough hand, full of bulging veins, taking, my small and cold hand, gently in his hand. It was a big hand like my father's, but it wasn't his. 
I felt better, that gesture made ​​me more relaxed. I realized then that I was standing next to the man who wore a brown custom like a dress, using a rope with a knot around him as a  belt. 
I do not know who he was, but I followed his voice saying to me - Come with me to see the flowers, until your parents come get you, they are well and so are you . 
I went hand in hand, comforted and at peace - the flowers were so beautiful ...